domingo, 30 de novembro de 2008

Erro exato

Vem, desabotoa minha alma
Como em fúria desenfreada
Pelo desespero alucinante da paixão.

Vem de encontro a mim em silêncio profundo
Sem perguntas, nem a espera de respostas certas
Pois que sou seu erro mais que exato.

E é na complexa inexatidão de nossas solidões
Que encontramos a paz necessária
Que te forma em mim e me impele à você.
(Adriane Muilaert)

Única

Fez-se noite em meu querer; amada!
De tua ida, ficaste pura em imagem:
Imaculada,
Celestial,
Feito anjo perfeito, entranhada em meus poros!
Imortal...
Levo-te em meu peito; agora frio e manso.
Relevo de dor e amor
Do beijo que não se pronunciou
Das palavras nunca ditas
Da saliva sedenta,
Que em minha boca nua secou
Meu corpo em suspiro com o teu
Renasce, floresce!
Minha pele trêmula, cálida, faminta...
Ainda clama por teu nome; incessante!
Entre sussurros no silêncio da madrugada
Ser-te-ei tua; somente.
Minh'alma proclama-te
Entre versos e lábios tristes
O que não tem princípio nem fim
Beijo-te a face oculta
E tuas curvas tão sonhadas
Quimeras...
Na imensidão infinda do desejo
Indefinidamente
Destino insólito,
Latejante,
Soberbo,
Ilustre obra do acaso
Que no relento da brisa úmida
No inesperado fortuito da paixão
Trouxeste-lhe divina, magestosa!
Para os braços do meu coração...
Dentre todas, foste a única.
Passarão muitas Joanas e Marianas
E tantas outras e outras Anas...
Mas por nenhuma delas sentirei o amor
Que por ti, mulher...
Fez de mim, quem hoje sou!
Só tu foste capaz
De transformar em contentamento
O vasto recôndito de minha solidão
És-me paz
És-me vida
Sou-te tudo o que precisares, querida.
Imortalizo-me em ti
Pois que me sinto agora o próprio amor
Sou-te tua.
Em corpo e alma.
(Adriane Muilaert)

Tormento!

Não sou quem pensava que era
Eu era aquela que um dia foi
Sem pensar, nem saber...
Por instinto ou precaução
Não sou breve
Sou leve
Sou aquele outro de mim
O espelho ou o avesso
A sombra e o medo
O desvario sem fim...
(Adriane Muilaert)

Quero-te

Quero-te ainda que seja apenas uma vez
Rasgar tuas roupas entre os dentes
E fazer dos meus lábios teu colchão
Para que num ímpeto desenfreado de tanta paixão
Tu amoleças teu corpo nu
Totalmente despido de amarras
E em meu colo te embriagues de amor
Até que tua sede seja saciada
De um gozo profano - profundo
E entre jogos de amantes
Refaças teu ego sensual
E assim, afogar-te-ei em carícias tão íntimas
Que te deixem absorta em teus lúcidos desejos
De me possuir por inteiro
Aí então te sugarei as entranhas
Teu líquido doce a penetrar por entre
Minha boca, meus poros...
E no deleite do teu corpo tão quente e macio
Percorrerei o caminho de tuas curvas mais densas
E em teus seios farei pousada
Até me perder em tua pele cálida
Sentindo teu suor escorrer plácido
Teu cheiro a me invadir o gosto
Sugando-te entre línguas e beijos
Braços e abraços
As mãos contorcidas de tesão
E o corpo embalado em paixão...
Quero-te minha
Fêmea
Mulher
Liberta do mundo
Descer entre o fino riacho de tuas costas em brasa
E desaguar em tuas carnes trêmulas
Tua forma suave a embalar minha emoção
Insana loucura - deliciosamente fugaz
Teu sexo em chamas
Colado em meus pêlos
E de tanto prazer
Num canto de harmoniosa leveza
Ouvir-te gemer entre uivos que me alucinem
Enrolada em lençóis de cetim
Que circundem teu corpo tão lindo e mágico
Oásis de brandura sob a mira do meu olhar
A despir-te a alma em fogo
Fazendo-te mais do que minha
Te fazendo novamente ser mulher
E essa fome tão louca de lhe ter ao menos uma vez...
(Adriane Muilaert)

Do ser...

Sou mansa, sou leve!
Mulher e amante
Homem errante
Singular e plural
Duas vezes.
Única
Sou forte
Anjo e demônio...
Mãe e irmã
Sou paz!
Amiga e figurante
Sou tudo e nada
Sou morada, sou ar...
Livre, sem pouso!
Puta, freira e caótica...
Sou solidão; acompanhada
Atemporal
Sou amor
Paixão
Inversão de valores
Infusão de sabores
O avesso do meu avesso
Sou deusa, dona, plena...
Fêmea
No cio.
Sou início e meio
Jamais fim!
Eu não me defino. Eu sou.
Ponto final.
(Adriane Muilaert)

sábado, 29 de novembro de 2008

Mais do que jogo de palavras

"O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse." (Clarice Lispector)